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O consumo de lácteos tem alta relação com a renda da população. Com efeito, tivemos forte expansão do nosso mercado entre 2001 e 2015, quando nosso consumo per capita passou de 120 para 175 kg/habitante/ano, fruto do aumento da renda, principalmente nos estratos mais pobres.

No Fórum MilkPoint Mercado, que realizamos online entre 13 e 14 de outubro, com mais de 300 participantes, o nosso colega Glauco Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, mostrou a elasticidade-renda dos lácteos, isto é, o quanto aumenta o consumo de cada derivado, para cada 1% de aumento na renda.

Ao comparar as Pesquisas de Orçamento Familiar (POF) de 2002/03 e 2017/18, porém, o pesquisador da Embrapa mostra tendências interessantes. A figura 1 mostra que, nos estratos de renda mais baixos, além do efeito da renda resultar em maior aumento do consumo, nota-se que, de 2002/03 para 2017/18, esse efeito se intensificou, isto é, o aumento de 1% na renda gerou maior crescimento do consumo no período recente, do que no início do milênio.

Figura 1. Aumento do consumo de lácteos x aumento de 1% na renda.

Fonte: Glauco Carvalho, Embrapa Gado de Leite

Já no estrato superior, o aumento de 1% na renda gerou somente 0,16% de aumento no consumo dos lácteos, sendo este valor bem menor do que o valor verificado na POF 2002/03, que era de 0,43%. Ou seja, o aumento da renda no estrato de renda mais alta praticamente não gera aumento do consumo da cesta de lácteos, caracterizando o grupo como bastante inelástico. E esse fenômeno se intensificou muito de 2002/03 para 2017/18.

Por que isso ocorre?

O estudo do IBGE não avalia as causas, mas podemos inferir que esse estrato de renda mais alta tem acesso a mais substitutos, tem mais interesse e abertura em experimentar o novo e pode ser mais influenciado por questões cada vez mais centrais à produção animal, como a sustentabilidade e o bem estar animal. Também, pode ser mais suscetível a informações (equivocadas ou no mínimo simplificadas demais) de que os lácteos não fazem bem à saúde.

É importante lembrar que, hoje, o consumidor tem à sua disposição uma infinidade de novos produtos, de forma que os concorrentes do leite não são mais somente os refrigerantes, os sucos e os chás. A POF mostra que o grupo de alimentos denominado “Outros” (que não são lácteos, carnes, frutas e verduras, cereais, leguminosas e oleaginosas, bebidas e infusões, farinhas, féculas e massas, açúcares, aves e ovos, alimentos preparados, panificados e óleos e gorduras), foi o que mais cresceu, passando de 8,3% dos gastos para 13,7%.

A área de novos alimentos recebe maciços investimentos de capital por parte de fundos e de corporações, ávidos por participar ativamente da revolução da alimentação, financiando startups que prometem reinventar os alimentos. De fato, 3 categorias captaram metade do investimento em Agtechs em 2019: proteínas vegetais/substitutos de proteínas animais, cadeia de suprimentos e fazendas urbanas/verticais, nessa ordem, segundo o hub DogPatch Labs, da Irlanda.

A figura 2 mostra o que isso está gerando. Todas essas empresas são startups (ou que já passaram dessa fase) que desenvolvem substitutos dos lácteos.

Figura 2. Startups que desenvolvem substitutos dos lácteos

startups que desenvolvem substitutos aos lacteos

Isso não quer dizer que o leite e seus derivados têm necessariamente um futuro nebuloso, apesar de algumas previsões apocalíticas, mas, sim que será o futuro em que a ampla possibilidade de escolha será a grande vencedora. Para continuarmos desenvolvendo nosso mercado à medida que a renda cresce, ao mesmo tempo em que o consumidor busca novas experiências e tem essas escolhas à sua disposição, é preciso que o setor evolua em diversas frentes, tendo uma postura bem mais proativa e focada no mercado, do que tivemos no passado. Isso envolve:

1) Na Produção: acessibilidade (custo competitivo), saúde humana (menor risco de resíduos de antibióticos, leite a2a2, ingredientes naturais), sustentabilidade (carbono neutro, agricultura regenerativa, gestão da água e resíduos), bem-estar animal (conforto, medição de parâmetros biológicos, pecuária 4.0, importância social (empregos, fomento à comunidade local, geração de renda na região) e comunicação (narrativa que consiga conectar consumo e produção).

2) Na Indústria: inovação em produto (novos ingredientes naturais, novas combinações de produtos, inovação aberta para acelerar a inovação); eficiência industrial e otimização de custos (indústria 4.0); novos canais (e-commerce, por exemplo); propósito e reconexão com o consumidor.

Ufa! Ninguém falou que seria fácil, mas, por outro lado, tem um pote de ouro para quem chegar lá.

Não há dúvida que o leite e os derivados representam uma categoria com amplo potencial de reinvenção. Também, é inegável que uma parcela significativa da população mundial vai continuar ascendendo economicamente e buscando proteínas animais (ao menos nos próximos anos...). Mas o cenário competitivo nos induz a refletir que muitas outras propostas de alimentos buscarão essa renda extra. Até impressão em 3D, ainda em sua infância.  Nesse cenário, é válida a reflexão de que aquilo que nos trouxe até aqui, não nos levará necessariamente adiante, até porque as curvas exponenciais nos sugerem que o que parece inacessível hoje, por ser muito caro, vai certamente ter seu custo muito reduzido no futuro. Isto é, achar que competiremos por sermos baratos não é um bom pensamento em um mundo em que a tecnologia traz avanços enormes a cada dia.

Fonte: Giro de Notícias MILKPOINT.

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